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Coisas que ambos pensámos em oferecer ao outro pelo Natal, mas que vá-se lá saber porquê acabámos por não oferecer!!
A plasticidade cerebral faz-se aqui
Nojood, 10 anos, divorciou-se e agora é Woman of the Year 2008
14.11.2008 - 08h44 Margarida Santos Lopes
A revista Glamour descreveu-a como "a mais célebre divorciada" do mundo, mas não foi por isso que a distinguiu, esta semana, como uma das dez Women of the Year 2008. Nojood Mohammed Ali, de dez anos, viajou de Sanaa, capital do Iémen, até Nova Iorque, para partilhar o prémio com Hillary Clinton, Condoleezza Rice ou Nicole Kidman por ter aberto o caminho às meninas que querem libertar-se de casamentos forçados.
Quando pisou o palco do Carnegie Hall, no dia 10, acompanhada da sua advogada Shada Nasser (também ela premiada), Nojood Ali irradiava luz, com uma túnica tradicional violeta e uma bandelette amarela a segurar longos cabelos negros. Impressionou pela timidez e valentia que fizeram dela a mais jovem receptora deste galardão, que há 19 anos é atribuído.
"Mal posso esperar conhecê-la, vai ser muito inspirador falar com ela. Que história incrível", disse Rice. A senadora Clinton exclamou: "Ela é exemplo de coragem. Uma das mulheres mais extraordinárias que eu já conheci."
Os elogios agradaram a Nojood, mas do que ela mais gostou, segundo o New York Daily News, foi de uma visita ao Museu de História Natural, de um passeio no Central Park e de um cruzeiro no rio. Tudo tão diferente do bairro com esgotos a céu aberto e do casebre onde vivem o pai, a mãe, a madrasta e 15 irmãos.
O drama de Nojood começou quando o pai, um desempregado que antes recolhia lixo nas ruas, quebrou a promessa de não a retirar da escola para lhe arranjar um marido, como fez a outras irmãs. Ela frequentava a segunda classe e adorava estudar Matemática e o Corão. Ele foi buscá-la para a entregar a um homem de 30 anos, o carteiro Faiz Ali Thamer.
No dia do casamento, confiante num alegado compromisso de que a união não seria consumada antes de ela "ser adulta", a menina ficou fascinada com o dote: três vestidos, um perfume, duas escovas do cabelo, dois hijab (véu islâmico) e um anel cujo preço equivalia a 20 dólares. Este foi logo vendido por Thamer, que comprou roupas para si. A partir dali, a vida da recém-casada só piorou.
"Eu corria de sala em sala para tentar fugir, mas ele acabava sempre por me apanhar", revelou Nojood ao jornal Yemen Times. "Chorei tanto, mas ninguém me ouvia. Sempre que eu queria brincar no pátio, ele vinha, batia-me e obrigava-me a ir para o quarto com ele. E se seu pedia misericórdia ainda batia e abusava mais de mim. Eu só queria ter uma vida respeitável. Um dia fugi."
E esse dia foi 2 de Abril deste ano, dois meses após o casamento. Sob o pretexto de ir visitar a sua irmã favorita, Haifa (que aos nove anos vende pastilhas na rua), seguiu o conselho da "tia" (a segunda mulher do pai) e foi procurar justiça. Esta mendiga que ocupa um quarto com os seus cinco filhos foi a única que a tentou ajudar.
Nem a viam no tribunal
Nojood apanhou primeiro um autocarro e depois um táxi e foi até a um tribunal de Sanaa. Ela era tão pequenina, que quase passou despercebida aos magistrados, aos advogados e a outros funcionários. À hora de almoço, quando a multidão se dispersava, relatou o diário Los Angeles. Times, "um juiz curioso aproximou-se dela e perguntou-lhe o que fazia sentada num dos bancos". A resposta foi: "Eu vim pedir o divórcio." Mohammed al-Qadhi, o juiz, ficou comovido.
"O tribunal estava quase a fechar, e ele levou-a para casa dele", contou ao PÚBLICO, por e-mail, a advogada Shada Nasser. "No sábado seguinte, ele mandou deter o marido e o pai. Foi então que eu apareci e me ofereci para a representar." (Ver caixa)
Nasser ficou intrigada por Nojood ter recusado ir para um lar de acolhimento e ter preferido voltar à casa paterna, mas nunca mais a abandonou. Quando o veredicto chegou - dissolução do casamento -, a notícia espalhou-se pelo Iémen e pelo resto do mundo. A CNN incluiu a advogada numa "galeria de heróis", por ela ter aceitado defender gratuitamente todas as outras (e muitas) meninas que entretanto quiseram seguir o exemplo de Nojood.
No Iémen, segundo um estudo da Universidade de Sanaa, cerca de 52 por cento das raparigas são forçadas a casar-se antes dos 18 anos. "O exemplo de Nojood vai aumentar a pressão para que se defina uma idade mínima para casar", diz ao PÚBLICO, por telefone, Mohammed al-Kibsi, do jornal Yemen Observer. "Os islamistas do Comité da Sharia [lei corânica] recusam impor limites, mas há um grande movimento da sociedade civil para que o Parlamento aprove este mês uma lei que imponha os 18 anos como idade mínima. Vai haver compromisso, para os 16 anos."
Al-Kibsi lamenta que nenhum jornal em língua árabe - nem mesmo no Iémen - tenha noticiado o prémio de Nojood e Nasser. "É pena que a maioria das pessoas ignorem o que aconteceu, até porque, para a maioria das tribos, no Norte e no Sul, o casamento forçado é uma vergonha."
Nojood está feliz. "A minha vida é doce como um rebuçado", disse à Glamour. Regressou à escola. Quer ser advogada. "Para proteger outras meninas como eu."
Shada Nasser ajuda crianças casadas à força
No dia 8 de Abril deste ano, Shada Nasser foi a correr para um tribunal em Sanaa, capital do Iémen, assim que soube que Nojood Mohammed Ali, uma menina de dez anos, apareceu sozinha perante um juiz a pedir para se divorciar do marido, de 30.
Há uma década que a advogada de 44 anos está envolvida na luta contra as tradições tribais, por uma nova lei de protecção da família e menores. "Quando o juiz ordenou a detenção do marido e do pai de Nojood, que a obrigara a casar-se, dei-lhe um abraço forte e prometi-lhe que a ajudaria", contou Shada Nasser ao PÚBLICO numa entrevista por e-mail, antes de ambas receberem esta semana, em Nova Iorque, o prémio Women of the Year 2008 da revista Glamour. "Ela sorriu e eu fiquei confiante que conseguiria vencer este caso."
O juiz dissolveu o casamento, medida mais drástica do que o divórcio, aceitando o argumento de que "não foi respeitada a lei", muito vaga sobre a "idade ideal" de ter relações sexuais, e que a menina foi violada.
"Eu tinha de apoiar Nojood [e outras crianças que apareceram depois], sem as oportunidades da minha filha, Lamya, nove anos, e do meu filho, Khalid, de quatro, que frequentam a British School, tocam piano e aprendem francês. Eu e o meu marido estudámos Direito. Ele é doutorado pela Sorbonne, em Paris, e eu mestre pela Universidade Charles Carlove, em Praga. Somos activistas e queremos mudar o nosso país."
A Baixa de Coimbra recuperou os balneários públicos, para servir as pessoas que não têm instalações sanitárias adequadas em casa. E são muitas, dizem. Vinte cêntimos dão direito a um banho quente. Mas os mais carenciados não pagam.
"Há muitas casas, no centro histórico, que nem sanita têm. Apenas o antigo ralo", conta Carlos Clemente, presidente do Rancho Folclórico das Tricanas de Coimbra. É, sobretudo, para dar resposta a quem as habita - pessoas de meia idade, oriundas da Alta e da Baixa, conta -, que os banhos públicos funcionam, há vários anos, ali, no nº 15 da Rua do Moreno, sede do grupo. Mas as portas abrem-se, também, a sem-abrigo, toxicodependentes ou nómadas. O uso é gratuito para quem tem óbvias carências económicas, realça Clemente.
Em Novembro, estes balneários encerraram por falta de dinheiro para obras e manutenção. Uma dificuldade ultrapassada com a assinatura, há escassos dias, de um protocolo entre o Rancho Folclórico, a Câmara Municipal e a Associação Integrar. A esta última cabe a gestão do equipamento, com o apoio financeiro - estimado em 7500 euros por ano - da autarquia.
Os banhos públicos reabriram ontem, ao fim da tarde, ainda que sem sombra de utentes. E quem são? "Pessoas com uma vida normal, mas que não têm condições para fazer uma higiene diária", reitera Carlos Clemente, também presidente da Junta de Freguesia de S. Bartolomeu. A assistente social Susana Marçal, da Integrar, reforça: "Isto não é banho para pobres. É para pessoas que, infelizmente, não têm condições sanitárias em casa".
Há uma técnica da Associação Integrar, em permanência, nas instalações, para prestar apoio e fazer vigilância. Isto porque existem regras a seguir. Assumir uma "postura correcta, designadamente de respeito para com os outros utentes", é uma delas. Exige-se, também, que cada utilizador leve os seus próprios artigos de higiene e toalha; e não esteja mais que 15 minutos debaixo de água. Como explica Susana Marçal, "é um equipamento que as pessoas têm de tratar bem".
Em apenas dois dias (terça e quarta-feira passadas), o espaço, que estava bastante degradado, recebeu novo rosto, uma vez reparado o chão, pintadas as paredes. "Para dignificar as instalações", segundo Oliveira Alves, director municipal de Desenvolvimento Humano e Social.
Os banhos públicos funcionam às segundas, terças e quintas-feiras, das 18 às 20; às quartas e sextas-feiras das 10 às 12; e aos sábados das 16 às 20 horas.
in JN